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UM INCÔMODO OU UMA OPORTUNIDADE?

Vem aí o Pan-Americano de handebol feminino adulto de Cuba, que começa em 21 de maio.

Do ponto de vista do Brasil, esse Pan-Americano de Cuba me parece ser mais uma fonte de problemas do que qualquer outra coisa. É uma competição em que o Brasil tem muito a perder e pouco a ganhar. Aproveitando uma comparação que o velho comentarista de futebol Juarez Soares sempre usava com muita graça, essa competição para o Brasil é um pouco como brigar com um bêbado: se bater, não fará nada de notável; se apanhar, passará a maior das vergonhas. Já para as adversárias do Brasil o prêmio em jogo é alto: se classificar bem para um mundial tendo a chance de enfrentar a seleção campeã do mundo e, quem sabe, “tirar uma casquinha”.

O momento em que acontecerá o Pan de Cuba também não nos favorece, aparentemente. É final de temporada na Europa e imagino que as jogadoras cheguem cansadas e com o relaxamento psicológico natural do momento. Ou seja, imagino que cheguem precisando de férias. Além disso, chegam em cima da hora, faltando uma semana para o início do campeonato, de modo que nem como oportunidade para uma boa fase de treinamentos esse Pan servirá.

Talvez o caminho mais apropriado a seguir fosse dar descanso para as jogadoras que jogam na Europa e levar a Cuba uma seleção formada por jogadoras que atuam no Brasil. As jogadoras aqui em nosso país estão em plena temporada, e seria muito proveitoso para elas e mesmo para a comissão técnica uma fase de treinamentos seguida de uma competição. Depois, para os Jogos de Toronto poderíamos convocar aquelas que atuam na Europa, pois elas teriam um período de treinos bem maior antes de tal competição, chegariam descansadas a esta fase de preparação e poderiam tirar o melhor proveito possível da boa oportunidade de enfrentar adversárias motivadíssimas nos Jogos de Toronto.

Bem, essas são suposições minhas, pode ser que eu esteja completamente errado. Mas como não há nenhum esclarecimento a respeito, supor é tudo o que posso fazer.

Feitas essas ressalvas, me parece que há também um lado bom nesse Pan de Cuba.

A Liga Romena só termina em 28 de maio, e é bem provável que CSM Bucarest e Baia Mare cheguem à final, sendo que nesses 2 times jogam ao todo 6 campeãs do mundo. Além disso, Mayara de Moura e Duda Amorim se recuperam de cirurgia. Ou seja, temos aí 8 jogadoras que normalmente assumem muitas responsabilidades na seleção e que não vão estar no Pan. Isso abre espaço para que outras jogadoras assumam grandes responsabilidades em uma boa série de jogos.

Por enquanto, foram convocadas 14 jogadoras. Pelo regulamento, podemos inscrever ainda mais duas jogadoras, totalizando dezesseis, e substituir duas delas durante o campeonato. Então, é de se esperar que haja ainda mais duas convocadas, que provavelmente seriam uma central e uma pivô ou lateral.

A convocação:

Goleira – Jacqueline Oliveira Santana (Toulon-França) e Jéssica Silva de Oliveira (Handebol Concórdia-SC).

 

Armadoras – Adriana do Nascimento Lima (MKS Zaglebie Lubin-Polônia), Amanda Andrade (handebol Concórdia-SC), Jaqueline Anastácio (Ringkobing Handbold-Dinamarca) e Karoline Souza (Nikobing Handboldklub-Dinamarca).

 

Central – Francielle Gomes da Rocha (Hypo Nö-Áustria).

 

Pontas – Célia Janete Costa Coppi (Metodista/São Bernardo-SP), Jéssica Quintino (MKS Selgros Lubin- Polônia), Larissa Fais Munhoz Araújo (Apahand/UCS/Caxias do Sul-RS) e Samira Rocha (OGC Nice-França).

 

Pivôs – Daniela Piedade (Siofok KC-Hungria), Fabiana Diniz (Nantes Loire Atlantique-França) e Tamires Morena Lima de Araújo (Gyori Audi ETO-Hungria).

 

 

Essa convocação um pouco alternativa do Brasil alvoroçou algumas adversárias, que já andaram declarando que podem vencer esse time. Será que elas estão certas?

Se a resposta levar em consideração apenas o “papel”, apenas os nomes, acho que as adversárias foram um pouco precipitadas. A seleção brasileira convocada para essa competição é fortíssima em todas as posições, com jogadoras de destaque nas ligas que disputam e em copas européias. Agora, nomes no papel às vezes não são suficientes, principalmente quando não se tem um período de treinamentos adequado antes do campeonato, as jogadoras estão em fim de temporada etc.

O fato é que seria muito interessante poder ver esse Brasil jogar, e digo “seria” porque não acredito que vá haver streaming ou qualquer outro tipo de transmissão. Espero me surpreender, mas…

Então, só nos resta torcer para que as jogadoras que tiverem que assumir responsabilidades possam fazê-lo com tranquilidade, tornando esse Pan de Cuba mais em uma oportunidade e menos em um incômodo.